A CAMINHO DO RIO DE JANEIRO
Os pracinhas que partiram de Santa Maria seguiram até a Capital do Brasil usando dois meios de transporte: o ferroviário e o marítimo.
Em ambos os casos, o início da viagem deu-se sobre trilhos. O primeiro e outros grupamentos percorreram todo o trajeto de trem, passando por Cruz Alta e São Paulo. Outros grupamentos, passando por Cacequi, deslocaram-se até o Porto de Rio Grande e, de lá, até o Rio de Janeiro, em navio de carga.
Viagem sobre trilhos
Soldados gaúchos embarcados.
Acervo de Ari Gomes Filho
Aribides Pereira recorda que o entusiasmo popular havia tornado o deslocamento até a estação um verdadeiro passeio: “Até ali havia sido uma festa só. Embarcamos no trem e, dos dois lados do vagão, o povo continuava fazendo festa e jogando pequenos presentes para nós. Até esquecemos a tensão que a possibilidade de estarmos indo para a guerra causava”. Somente quando o trem se pôs em movimento, deixando para trás o calor dos aplausos, é que muitos pracinhas perceberam que estavam em trens de carga, sem estrutura para o transporte humano, e com uma longa viagem pela frente.
Segundo Aribides, em Cruz Alta embarcaram militares do 6º RAM e do 8º RI, sediados naquela cidade. Lá, a exemplo do acontecera em Santa Maria, houve muita festa e distribuição de presentes. Isso se repetiu nas estações de Carazinho, Getúlio Vargas e Marcelino Ramos, no Rio Grande do Sul. A partir do ingresso no Estado de Santa Catarina, o cenário mudou: acabaram as festividades, e ninguém sabia quem eram e nem para onde estavam indo aqueles jovens fardados.
Dentre os militares que embarcaram em Cruz Alta, estava o soldado Neraltino Flores Santos. Para ele, a viagem foi bastante cansativa. “A gente não tinha nenhum conforto. Íamos sentados no assoalho do vagão, pois não havia bancos. Nas estações ferroviárias, no Rio Grande do Sul, éramos recebidos com festa, e nos serviam comida quente. Depois, acabaram as recepções calorosas e, na hora das refeições, quase sempre, recebíamos um sanduíche simples”, recorda.
Alcides Basso, Geraldo Sanfelice e Pacífico Pozzobon são unânimes quanto ao desconforto da viagem, iniciada na véspera do Natal de 1944. Para Pozzobon, o maior problema “eram os vagões boiadeiros sujos, fedorentos, sem beliches e, sequer, bancos. Estávamos amontoados no vagão como bichos”. Relata que, em Cruz Alta, houve um princípio de revolta dos pracinhas, que exigiam mais respeito e melhores condições para seguirem viagem. Não tornariam a embarcar se não houvesse mais espaço. Mesmo com o acréscimo de dezoito vagões, o conforto melhorou pouco: o espaço era insuficiente e não havia banheiros. Esse fato produziu situações cômicas e constrangedoras: buracos no assoalho do trem eram latrinas; os trilhos recebiam os dejetos. Para urinar, muitos malabarismos tinham de ser feitos junto à porta dos vagões. As roupas que iam sujando, iam sendo descartadas. Quando o motivo do descarte não era a sujeira, eram as brincadeiras entre os pracinhas, que despojavam os companheiros, jogando as roupas para fora do trem, fazendo a alegria dos agricultores que trabalhavam ao longo da via férrea, pelo interior de Santa Catarina e Paraná afora. “Alguns companheiros chegaram ao destino somente de calção e camiseta”, diz Pozzobon.
Taltíbio Custódio complementa: “Quando chegamos a São Paulo, parecia que o trem estava chegando de uma guerra. Tinha buracos para tudo que era lado. Passamos um dia na Estação da Luz, aguardando um trem que nos levaria até o Rio de Janeiro. No trecho entre São Paulo e o Rio de Janeiro, sim, fomos bem acomodados. O trem era de primeira”.
Viagem pelo mar
Tropa embarca em Porto Alegre, com destino ao Rio de Janeiro.
Correio do Povo – Acervo Arquivo Histórico de Santa Maria
Pedro Vidal e Ivo Ziegler fizeram outro percurso. Após passarem por Cacequi, Bagé e Pelotas, cidades em que iam embarcando pracinhas daquelas regiões, chegaram a Rio Grande. Naquela cidade, os pracinhas embarcaram em um navio a vapor que partira da Capital, conduzindo soldados da Região dos Vales, de Porto Alegre e da Serra. Entre eles, José João Pereira, cabo do Batalhão Ferroviário, de Bento Gonçalves-RS, que relata: “Descemos a Serra num trenzinho do Batalhão Ferroviário. Pernoitamos no Colégio Militar de Porto Alegre e, pela manhã, seguimos até o cais do porto. Após solenidade de despedida, que contou com maciça presença popular, embarcamos num navio cargueiro, que tinha acomodações para o transporte de pessoal”.
José Pereira lembra que, para ele, a viagem foi tranquila, pois foi acomodado em uma cabine. No entanto, por falta de espaço para todos na área destinada ao pessoal, muitos soldados viajaram no convés, ficando expostos às intempéries e ao balanço do navio. Não era raro que ficassem molhados quando o mar se agitava mais.
Pedro Vidal recorda que “o navio carregava cebola, batata, pimenta e outros gêneros alimentícios. Era um fedor só, além de ser muito quente. Para mim, que era meio arisco, e só havia visto vapor (navio) no cinema, tudo era novidade. Assim que o navio se pôs em movimento, começaram os enjoos”. Ivo Ziegler diz que preferia ficar no convés porque, nos porões, o cheiro das cebolas era muito forte, aumentando o mal-estar. “Lá em cima, era melhor; apesar do sol quente, sempre havia uma brisa agradável”.
Após descarregar as mercadorias no porto de Santos-SP, o navio seguiu até o Rio de Janeiro, chegando ao destino em 27 de dezembro.
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congratulo pelo trabalho! estou pensando em comprar um exemplar em breve, espero que a edição não acabe logo
não marque bobeira e compre um logo
Boa noite…meu avô foi para guerra,ele foi pracinha…se não me engano era policia também…. não tenho certeza…ele faleceu tem 38 anos mais ou menos…
Teria alguma herança,algum dinheiro que ele não pegou??