Soldados brasileiros descontraem na neve
Acervo da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil – Seção Brasília
Ao saírem do Brasil, os soldados sabiam que estavam indo de encontro a um inimigo muito mais bem preparado para o combate e ambientado ao cenário da guerra. No entanto, ao chegarem lá, descobriram que havia outros inimigos, não menos implacáveis: o frio e o medo.
Aribides Pereira recorda que saiu do Brasil com uma temperatura bastante alta, e que, ao chegar à Itália, “o frio era intenso e a neve começava a se formar”. Pedro Vidal diz: “Nas barracas, que amanheciam cobertas de neve, o frio era terrível. Nunca havia sentido frio parecido”.
Não demorou muito para os pracinhas aprenderem vários meios de amenizar os efeitos das baixas temperaturas. Sanfelice recorda que os cariocas e nordestinos sentiam mais o frio. Os gaúchos estavam mais acostumados, mas não a um frio como aquele. Segundo ele, o mais importante era manter os pés aquecidos. Para tanto, o macete era pegar um combat boot maior do que os pés. Após forrá-lo com palha seca, colocar mais um par de meias de lã e pronto! O frio não tinha vez. Pacífico Pozzobon lembra que, para ter água para fazer a barba, pela manhã, dormia sobre o cantil. Ivo Ziegler acrescenta que, algumas vezes, para beber água, derretia neve no caneco.
Se o frio causava mal-estar, havia um inimigo ainda mais temido. Para Pedro Vidal, “o frio era coisa braba, mas o medo era ainda pior. Paura, diziam os italianos. Eu diria que era superpaura, muito medo. … O medo era constante, mas era palavra proibida. ‘Tá com medo, soldado? Não, senhor!’ era a resposta mais apropriada. Bom mesmo, mas muito difícil, era nem pensar no medo. O problema é que o capacete alemão, mesmo sem soldado embaixo, impunha respeito; tirava sono até de criancinha”, conclui brincando.
Taltíbio Custódio, com relação à instrução para o combate, diz que “a preparação, no Rio de Janeiro, revelou-se pouco útil, pois saímos de um calor escaldante e chegamos à Itália com frio e neve; o terreno, o armamento e o fardamento eram totalmente diferentes”. A reciclagem da instrução, segundo diz, coube ao pessoal do 6º RI, que chegara antes à Itália. As áreas de instrução, cerca de vinte, tinham nomes como Pindamonhangaba, Caraguatatuba, e outras cidades paulistas. O treinamento, bastante puxado, começava logo depois do café. A educação física também era bastante forçada, pois o preparo físico era a base para um bom soldado.
“Era instrução para tudo: como usar os novos fardamentos e armamentos, sobrevivência, proteção contra o frio, etc. … A missão inicial era nos deixar a par dos riscos que corríamos se pegássemos ou tocássemos em qualquer coisa. O cuidado e a cautela eram essenciais, ressaltavam. Qualquer material poderia conter armadilhas fatais”, diz Custódio.
Ivo Ziegler recorda que, apesar de haver chegado à Itália um dia após a tomada de Monte Castelo pelas tropas brasileiras, a guerra continuava. Por isso, era necessário que todos estivessem preparados. Essa era a rotina dos pracinhas que permaneceram no Depósito de Pessoal, para eventual reposição das tropas que estavam em ação no front. “A reserva tinha que estar preparada, em caso de necessidade”, complementa.
Alcides Basso diz que os treinamentos eram severos, cansativos. De dia ou à noite, os treinamentos eram com munição real. Não tinha medo, pois sabia que era treinamento. Contudo, como a munição era real, tinha de ser feito tudo com muita correção. “Nas pistas de progressão, tínhamos de rastejar de costas para o chão, com o fuzil roçando no arame farpado”. Custódio acrescenta que “não se economizava munição em treinamento. A prioridade era a vida humana e, para mantê-la, os homens tinham de estar em condições de serem empregados em missões reais”.
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